Reflexões de
Dom Orani João Tempesta, arcebispo do RJ
RIO DE JANEIRO, sexta-feira, 31 de
agosto de 2012 - Estamos em mais um dos meses
temáticos. Além dos temas dos textos bíblicos e os próprios da liturgia, a
Igreja no Brasil nos sugere um assunto que perpassa todo o mês para a nossa
reflexão.
Em setembro, a Igreja Católica celebra
o mês da Bíblia. Esse mês temático foi criado em 1971 e ele foi escolhido
porque no último domingo celebramos o Dia Nacional da Bíblia, devido à
proximidade da festa de São Jerônimo, patrono dos estudos Bíblicos, no dia 30.
A cada ano um livro bíblico é
aprofundado em nossas comunidades, seja pelas reuniões de grupos, seja pelas
publicações, ou ainda pelas celebrações. Nesse ano, o tema deste mês é
“discípulos missionários a partir do Evangelho de Marcos”. A escolha desse evangelista
ocorre devido ao ano “B” da liturgia dominical, que contempla a leitura desse
texto. Jà está previsto para os próximos anos seguir o mesmo tema à luz do
evangelho do domingo: Lucas, Mateus e depois, em 2015, João.
Graças aos apóstolos, mais próximas
testemunhas que viveram com Jesus Cristo, chegam até nós a Boa-Notícia da
Salvação proclamada pelo Filho de Deus. Assim se expressa São Pedro:
"Senhor, para quem iremos nós? Só Tu tens palavras de vida eterna?"
(Jo 6, 68).
Fé na Palavra, que é viva! O Verbo é o
prório Cristo: Ele é a Palavra viva! A Bíblia, ou Sagrada Escritura, é como uma
carta enviada, que hoje atualizamos com a prática da fé, à luz da Tradição da
Igreja e do Magistério Pontifício. É a Sua Palavra viva e eficaz.
O que a Palavra de Deus me diz, ainda
hoje, aqui e agora? Deus fala, ainda hoje, e as palavras são dirigidas a todas
as pessoas. Este é o grande mistério da Palavra de Deus. Para cada um dirige
pessoalmente a sua voz.
Essa verdade tem consequências enormes.
Você precisa ter consciência do que Deus diz na Palavra, a fim de não perder
esses momentos especiais. É então que se faz necessário perguntar: O que Deus
diz para mim, hoje?
Fé na Palavra, que dá a vida! A Palavra
que é dirigida a mim, pessoalmente, é a fonte da verdadeira vida. A Palavra
deve ser assumida com uma fé profunda, que é sempre dirigida a mim – aqui e
agora!!
Encontro com a Palavra viva:
sobre o tema, a verdadeira escola de escuta e oração, o Papa João Paulo II, em
sua Cartapara o terceiro milénio, Novo millennio ineunte, nos lembra
este verdadeiro programa de pastoral. Ele escreve: "É necessário que a
escuta da Palavra de Deus deve tornar-se uma vida de acordo com a tradição
antiga e sempre válida da lectio divina, para ajudar a encontrar o texto
bíblico como Palavra viva que interpela, orienta e plasma a existência".
Este foi o método escolhido para ser seguido pelos nossos círculos
bíblicos. É também o capítulo IV de nosso 11º Plano de Pastoral de
Conjunto: “A Palavra de Deus: lugar Privilegiado para o En contro com Jesus
Cristo”.
A Palavra é uma palavra constantemente
presente. Jesus envia seus discípulos a todo o mundo, ordena-lhes fazer
discípulos entre as nações por onde passaram, a pregar a Palavra exatamente
como foi comunicada a eles.
Ler a Bíblia supõe abertura a ação do
Espírito Santo, mas também aprofundamentos. São importantes alguns estudos
preliminares que fornecem uma visão geral das informações básicas sobre o
ambiente em que o livro foi escrito. Por isso, é preciso conhecer o contexto
mais amplo da Bíblia. Este contexto irá variar dependendo de qual livro
queremos ler.
Por exemplo: é óbvio que devemos ler os
Evangelhos com uma ótica diferente como lemos o livro do Apocalipse. Esta
preparação é ainda mais necessária no caso do Antigo Testamento, que contém uma
série de textos escritos dentro de uma cultura muito antiga. Novas traduções
são fornecidas e somos ajudados com os comentários de rodapé ou à margem do
texto. Recorrer aos Dicionários Bíblicos também nos complementa a ter uma visão
mais ampla dos temas e situações. Estes materiais nos ajudam para a leitura
individual. Nesse aspecto, vale a pena mencionar dois princípios básicos de
leitura da Bíblia. Na sua base, há uma regra geral que diz que toda a Bíblia é
um farol para os seres humanos. Assim, o primeiro e fundamental princípio para
se ler a Bíblia é este: cada declaração das Escrituras considera o contexto em
que ela ocorre.
A segunda regra aplica-se a ter em
conta os diferentes tipos de passagens literárias da Bíblia. Quem já teve até
mesmo um contato superficial com várias obras literárias sabe que o caminho
para ler e interpretar tais documentos, ou prosa (como o romance) e poesia é
uma forma diferente. Os autores bíblicos também se beneficiaram de uma grande
variedade de gêneros literários. Na Bíblia, encontramos textos poéticos (por
exemplo, Salmos); encontramos fragmentos de documentos oficiais (por exemplo,
no livro de Esdras, Macabeus); encontramos fragmentos de narrativa (por
exemplo, em Atos dos Apóstolos). Cada leitura é um pouco diferente. E é
necessário evitar o maior perigo na leitura da Bíblia, que é a interpretação
fundamentalista. Esta interpretação é de significado literal de cada uma das
frases das Escrituras, sem levar em conta as implicações históricas da criação
do texto. A leitura fundamentalista da Bíblia enfatiza a interpretação literal.
Necessitamos descobrir o que está na narrativa bíblica e que é o mais
importante, a saber – a mensagem de levar o homem para a salvação.
O nosso dia deveria começar com a
leitura da Palavra. A tradição da Igreja nos coloca os salmos para a oração da
Liturgia das Horas. É, pois, importante que o inciemos com a leitura orante da
Palavra de Deus, algo que vai proteger o nosso coração durante o dia, como Maria,
que mantinha tudo no seu coração. Armazenar a Palavra logo de manhã para
irmos “ruminando” durante todo o dia. No final do mergulho na meditação,
iniciamos um novo dia com todos os problemas que ele traz, mas no coração temos
uma palavra, ou pelo menos um de seus versos, algo recebido e acolhido a partir
da leitura.
Na liturgia da missa os vários textos
se complementam e na sequência nos ajudam a mergulhar ainda mais no mistério.
Que no mês da Bíblia, em nossas vidas,
em nossas famílias, em nossas comunidades e principalmente na animação do nosso
círculo bíblico possamos cada vez mais colocar a Palavra de Deus como centro de
nossa ação evangelizadora.
† Orani João
Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte:
Padres e Irmãos Paulinos
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