A
condição principal para a evangelização acontecer é se fazer um com aquele que
é O Evangelizador. Muitas vezes, a evangelização é tida como uma experiência de
métodos, como uma maneira de proceder frente a uma análise social, e essas
realidades são difíceis. Mas não podemos esquecer que em todas as épocas foi
difícil evangelizar.
Quando olhamos a forma
que Paulo anunciou o Evangelho em Atenas ou Roma, vemos que ele teve desafios
e, hoje, ainda temos grandes dificuldades, mas não podemos aumentá-las. Não
sabemos se estamos dentro de uma sociedade que está em decadência e que vai se erguer,
tudo isso foge do nosso alcance.
O que sabemos é o
essencial do método: se fazer
um, unir o coração com o Evangelizador, que é o Cristo. Aquele que
construiu e edificou a Igreja é o Cristo, quando disse a Pedro "tu és
pedra e sobre essa pedra eu edificarei minha Igreja".
Ele disse "EU
construirei minha Igreja", então é o Cristo, que constrói e a Igreja
pertence a Ele.
Qual é,
então, a condição para que a evangelização aconteça?
Que no primeiro momento,
nós os evangelizadores, sejamos pedras relativamente estruturadas. Quer dizer,
nós precisamos ser cristãos sólidos, fortificados interiormente, como São Paulo
diz: "fortificai o homem
interior". A segunda coisa é estar inteiramente nas mãos do Cristo.
Então, se cada um de nós
pertence inteiramente ao Cristo e se minha vida, meu engajamento, meu
pensamento, minhas energias, minhas iniciativas são verdadeiramente conduzidas
pelo Cristo, guiadas pelo Cristo e dentro da obediência do Cristo, eu estou
entre Suas mãos. E a nossa oração de cada noite é "em tuas mãos eu coloco
minha vida". Então, nesse momento, Ele vai poder fazer qualquer coisa de
nós.
Os
grandes desafios da evangelização não são as dificuldades que encontramos na
sociedade contemporânea, mas sim nossa questão pessoal em direção ao Cristo. Se eu pertenço verdadeiramente ao Cristo,
posso ficar tranqüilo, pois Ele fará um bom trabalho comigo e em mim - Ele fará
o que quiser.
O que
Ele quer eu não sei ainda claramente. Eu não sou um robô, não sou
uma pedra, sou uma pessoa que pensa pertencendo ao Cristo, olhando a sociedade
contemporânea, as questões de hoje.
Por exemplo, a questão de
como falar às pessoas, como dizer uma palavra que toque o coração. A questão
sobre o desafio da missão, tal como ela é questionada será uma análise
intelectual, missionária, sociológica, do mundo contemporâneo, porém
secundária.
Um dia, um aluno de uma
escola de engenharia da cidade de Lyon me questionou: "Como posso fazer para
evangelizar na minha escola, onde há judeus e mulçumanos? Eu não posso chegar colocar a pessoa
em um canto e dizer você precisa tornar-se cristão". Eu respondi: "a
melhor forma de ser missionário, é deixar que o Missionário com "M"
maiúsculo - o único Missionário - realizar toda a missão d'Ele em você.
No dia em que o Cristo
tomar posse de toda a tua pessoa, segundo essa frase da segunda epístola aos
Coríntios, que nós temos dentro de uma oração Eucarística; nossa vida não
pertencerá a nós mesmos, mas àquele que é morto e ressuscitado por nós. Quando
Ele cumprir toda a sua missão, no fundo do teu coração, de tua inteligência,
tudo e tudo, você pode, então, ficar tranqüilo, pois as palavras serão
adaptadas, sua presença será justa e as pessoas serão tocadas pelo teu
testemunho.
Para mim, o primeiro
desafio não é se fechar sobre uma política astuciosa, um plano original ou um
novo método todo adaptado às novidades da sociedade contemporânea. Mas, antes de tudo isso, o importante é
pertencer inteiramente ao Cristo -
aí eu ficarei tranqüilo, pois Ele nos adaptará. Ele sabe quem somos, para que
nos fez e qual é o dom de cada um de nós.
E mais: em minha opinião,
Ele conhece e analisa a sociedade contemporânea melhor que nós. Isso para mim é
o primeiro desafio: ouvir cada uma das suas palavras e compreendê-las.
Vou dar um outro exemplo.
Quando Jesus diz "vocês vão receber uma força e serão minhas testemunhas
aqui em Jerusalém e até as extremidades da terra", se eles fossem fracos e
dissessem: "eu não irei, pois minha avó é velha, e tenho uma casa de
férias perto de Jerusalém..." - coisas como essas; nós não seríamos
evangelizados".
Portanto, eles
compreenderam que essa palavra
do Cristo os tirava da sua pátria, da sua família, de sua casa. Eles
partiram em condições de viagem mais difíceis que hoje. Foram a Chipre, Grécia,
Itália e desembarcaram na cidade de Marseille; subiram até Lyon, aqui na França
e vieram com a sua cultura
para dar unicamente uma coisa o Evangelho.
Agora, eu digo: se eu sou
cristão é porque eles escutaram essa palavra do Cristo e a colocaram em
prática. Eles sabiam que suas vidas pertenciam ao Cristo, por isso partiram.
Não conheciam os habitantes dessa terra, nem conheciam o império romano, a
mentalidade da época, quais eram os desafios culturais e contemporâneos da
evangelização.
Eles
sabiam de uma única coisa: que eles pertenciam ao Cristo e que, quando Cristo
os enviava em missão, era preciso partir e anunciar o Evangelho. E eles partiram... Graças a eles, hoje eu
sou cristão.
E como eu quero que as
pessoas em 2005 sejam bem cristãs, eu não tenho outra solução do que fazer
igual: partir hoje na rua, nas periferias, aos jovens, aos velhos, etc dizendo
até que ponto eles são amados, até que ponto o amor de Deus chega até eles.
Hoje, em suas vidas, e no
nosso mundo, no fundo, esse é o grande desafio da missão: fazer com que as pessoas compreendam
que são amadas e até que ponto elas são amadas. Isso é o reconforto mais
sólido e profundo.
Cardeal
Philippe Barbarin
artigos@cancaonova.com
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